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Um Só Corpo na Prática - Livro Impresso

Apendice: Grupos Cismaticos Dentre os Conhecidos como "Irmaos"

As divisões e cismas manifestadas no testemunho cristão sempre tiveram um começo. Se alguém estiver pensando seriamente em entrar em comunhão com um grupo de cristãos que professa estar congregado sobre os princípios da Palavra de Deus, é bom indagar sobre sua origem. Cada reunião de cristãos tem uma história. W. Potter escreveu: "Qual é a origem de tal e tal reunião? Por que eles se reúnem separados de outros? Sua posição é bíblica?". Estas são perguntas importantes que devem ser feitas.



A ideia equivocada de que Deus iria reconhecer mais de uma expressão da verdade do "um só corpo" não é nova. Desde o início dos anos 1900 já circulavam panfletos propondo tal linha de pensamento por aqueles que buscavam amalgamar as diferentes divisões entre aqueles conhecidos como "Irmãos" para fazer delas uma única comunhão. Mais tarde eles acabariam sendo conhecidos como a comunhão de KLC (Kelly/Lowe/Continental), apesar de não levarem formalmente tal título. Aqueles que fazem parte dessa amalgamação não acreditam que exista, na prática, uma expressão divinamente reconhecida da verdade do um só corpo. Eles creem que a mesa do Senhor não poderia estar em um único lugar, ou apenas entre os que fazem parte de uma única comunhão de cristãos. Eles acham que o Senhor está no meio de qualquer grupo de cristãos que esteja reunido de acordo com o padrão bíblico. Eles acreditam que o Senhor está no meio desses grupos dando Seu aval à sua existência, mesmo que esses grupos possam não estar em comunhão uns com os outros. Alguns desses grupos surgiram a partir de divisões ocorridas entre eles no passado. Escutamos um líder nesse grupo conhecido como KLC dizer: "Cremos que vocês estão congregados pelo Espírito ao Nome do Senhor sobre o terreno do um só corpo, e têm o Senhor em seu meio tanto quanto nós. A única diferença é que na prática nós não temos comunhão uns com os outros". Não é difícil perceber a razão de eles sustentarem tal opinião. Eles foram obrigados abrir mão da verdade do único centro de reunião a fim de levarem adiante seu plano de unir os vários grupos fragmentados dentre os irmãos.

Quando uma afirmação assim é colocada à prova pelos princípios da Palavra de Deus que temos apresentado nos capítulos anteriores, vemos que simplesmente não pode ser possível que ambos os grupos estejam sobre esse terreno e separados entre si. Primeiro, os grupos de cristãos que partiram para essa amalgamação estiveram todos um dia com aqueles congregados ao Nome do Senhor no verdadeiro terreno da igreja, mas suas origens estão na recusa de se submeterem a uma decisão da assembleia que fora tomada em Nome do Senhor Jesus. Em algum momento do passado Eles se rebelaram contra certas decisões da assembleia e saíram do divino centro de reunião. Então, após estarem reunidos por algum tempo como uma divisão, tiveram essa ideia de tentar amalgamar grupos similares entre si. Depois de fazerem isso ainda se dizem congregados ao Nome do Senhor e à mesa do Senhor -- exatamente como aqueles de quem se separaram muitos anos antes. A única diferença, dizem eles, é que nós não estamos em comunhão com eles na prática. Perguntamos: Como um movimento assim pode vir de Deus? É inconcebível que um grupo assim poderia estar sobre o verdadeiro terreno da assembleia considerando que seu ponto de partida foi totalmente errado. Como algo que começou com uma rebelião e afastamento do terreno divino se transformaria mais tarde no terreno divino só com a passagem do tempo? Será que o Senhor iria sancionar Sua presença em um grupo que se dividiu dos santos congregados ao Seu Nome e teve como origem a recusa de se sujeitar a uma decisão da assembleia que o Senhor havia ligado no céu? A fim de acomodar cada um dos grupos unidos por essa amalgamação eles tiveram de abrir mão de determinadas verdades relacionadas ao erro que cada novo grupo particularmente adotou ao abandonar o centro divino. Uma verdade que em todos os casos foi comprometida foi a de que a mesa do Senhor só poderia estar em um lugar -- isto é, em uma única comunhão de cristãos.

A segunda coisa que demonstra que essa comunhão conhecida como KLC não poderia estar no mesmo terreno daqueles que estão à mesa do Senhor, que eles abandonaram em uma divisão ocorrida há muitos anos, é que eles ocasionalmente eles acabariam recebendo pessoas que abandonaram ou foram excluídas da comunhão à mesa do Senhor. Isto é negar na prática a confissão de que ambas as comunhões estejam sobre o mesmo terreno, pois (como já vimos) quando uma decisão é tomada em Nome do Senhor Jesus ela deve ser acatada por todos os que se encontram no terreno do "um só corpo". Se uma assembleia congregada ao Nome do Senhor recebesse alguém que outra assembleia similarmente congregada sobre o mesmo terreno tivesse excomungado, isto seria deixar de lado a ação do Espírito Santo na tomada de decisões e negar a unidade do corpo. Se ambas as comunhões estivessem sobre um mesmo terreno elas iriam reconhecer as decisões umas das outras. É verdade que eventualmente o inverso tem acontecido -- os que foram excomungados de tais grupos têm sido recebido entre os congregados ao Nome do Senhor. Mas isto é porque os santos congregados à mesa do Senhor não reconhecem as decisões desses grupos como tendo sido ligadas no céu pela autoridade do Senhor, pois o terreno que eles assumiram com sua divisão é cismático e feito pelo homem. Além disso, os santos congregados de modo algum afirmariam que ambos os grupos estejam sobre o mesmo terreno.

Se o grupo conhecido por KLC realmente quisesse que ambos os grupos estivessem juntos em comunhão (como dizem querer), então tudo o que precisariam fazer seria reconhecer que estão em um terreno de divisão por terem deixado a mesa do Senhor, e que seguiram assim com aqueles grupos que rejeitaram diferentes decisões de assembleia tomadas ao longo dos anos. Se eles quisessem se arrepender e retornar ao centro divino tudo seria sanado. Então eles poderiam ter o que dizem querer. É claro que tal retorno precisaria ser individual (Is 29:12). Não poderia se esperar que aqueles que estão congregados ao Nome do Senhor fizessem vista grossa a essas tristes divisões e amalgamações ocorridas nesse movimento, pois se assim fosse, estariam sendo coniventes com a rebelião. "Portanto assim diz o Senhor: Se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de Mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a Minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles" (Jr 15:19).

O desejo de estarmos juntos é válido. Todos nós deveríamos estar sobre um só terreno, mas isto não pode ser feito comprometendo a verdade do único centro de reunião. Voltar ao ponto em que ocorreu a divisão e reconhecer o erro que foi não terem se sujeitado a uma decisão de assembleia é a única maneira de se obter uma restauração divina. É algo que deve ser confessado, e não meramente na forma de uma humilhação genérica por causa da má condição que levou os santos a se dividirem. O princípio correto para solucionar todas as divisões entre o povo de Deus é o arrependimento e a volta ao ponto de partida. [Ver nota]

[Nota: Talvez eles não concordem com isso, pois nas reuniões que os levou a se amalgamarem (ainda em divisão do centro divino de reunião) houve muita oração e humilhação. Mas o que dizer da confissão do mal feito pela rebelião contra as decisões de assembleia tomadas em Nome do Senhor e do abandono do centro de reunião? Parece que o que desejam é uma solução sem um verdadeiro arrependimento e reconhecimento daquilo que foi feito -- do fato de que eles têm se mantido ligados a um grupo que saiu do divino centro de reunião por terem se recusado a se sujeitar a uma decisão de assembleia.]

O problema é que o reconhecimento do erro que foi não se sujeitarem às decisões de assembleia tomadas em Nome do Senhor é humilhante demais. Sabemos o quão difícil é nos humilharmos. J. N. Darby escreveu que a submissão é o grande princípio para a restauração da humanidade. Ele disse também que a humildade seria o segredo da comunhão e o orgulho a causa de divisão. Ao invés de voltarem ao ponto de partida, aqueles que fazem parte desse movimento iriam preferir trabalhar para reunir irmãos de vários grupos divididos sobre o princípio errôneo da amalgamação, e à custa de abrir mão da verdade do único centro de reunião -- a mesa do Senhor.

Já foi muito bem documentado que J. N. Darby, C. H. Mackintosh e outros professavam a verdade de uma mesa do Senhor, onde Cristo está no meio como o centro divino de reunião. Há também muitas evidências que demonstram que muitos dos líderes que causaram essas divisões também professavam a verdade de uma única mesa do Senhor, mas abriram mão disso a partir do momento em que saíram na divisão. Por exemplo, quando perguntaram a S. Ridout por que os irmãos que apoiaram Grant naquela divisão partiram o pão apressadamente logo no primeiro dia do Senhor após ele ter sido colocado fora de comunhão, ele respondeu: "Acreditamos que em 1884 muitos de nós, antes da divisão, tinham em comum o pensamento de que nós tínhamos exclusivamente a Mesa, e por isso não podíamos deixar passar um único dia. Cremos que por esta razão houve pressa em partir o pão em Craig Street, Montreal, sem interrupção". Poucos meses depois ele escreveria outra carta falando do que "constitui ou caracteriza a mesa do Senhor, afirmando que nenhum grupo pode reivindicar a posse exclusiva dela" (N. Noel, "History of the Brethren", vol. 1, p. 342-343). Deste modo S. Ridout admite que eles costumavam professar a verdade de uma única mesa do Senhor, mas que abriram mão disso.

Existe também uma citação de uma publicação feita por Grant em 1914 que diz: "Talvez a questão mais importante que pesa do nosso lado da balança, se podemos dizer assim, quando tudo é tão precioso e vital, é a verdade de que nenhum grupo de cristãos, nem mesmo nós, pode reivindicar um monopólio da mesa do Senhor, ou de estar congregado em Nome do Senhor. Se esta verdade fosse conhecida trinta anos antes, talvez a divisão tivesse sido evitada" ("The Gleaner", Fevereiro 1914). Aqui temos mais uma vez um reconhecimento de que a verdade do único centro de reunião fora um dia professada e mais tarde abandonada. Assim, tendo abandonado o ensino de um único centro de reunião, eles passaram a chamar de "grande verdade" o abandono da verdade. Que triste prova de autocongratulação da parte daqueles que se gloriam em sua própria vergonha.

Encontramos também N. Noel (um irmão ligado a essa amalgamação) elaborando o assunto em muitas de suas páginas de "História dos Irmãos" -- e assim desviando-se do objetivo do livro que seria o de apresentar a história -- numa tentativa de provar que não existe algo como a mesa do Senhor estar em um único lugar, e que não existiria diferença entre a mesa do Senhor e a ceia do Senhor. É possível perceber que ele estava incomodado, enquanto tentava convencer seus leitores desse assunto. Nossos comentários sobre os dois aspectos da assembleia e da mesa do Senhor nos capítulos anteriores demonstram claramente que J. N. Darby e outros irmãos do princípio não concordavam com tal ponto de vista. Será que aqueles primeiros irmãos se enganaram naquilo em que acreditavam e que custou a eles um tão alto preço? Será que J. N. Darby e outros de sua época estariam todos enganados neste aspecto? Estariam S. Ridout, N. Noel e outros andando tão próximos do Senhor após o declínio atingir o testemunho remanescente, que seu discernimento espiritual excedia o dos irmãos que vieram antes deles? É bem óbvio que os irmãos do início tinham um entendimento e discernimento espiritual que superava o dos que vieram depois -- inclusive nós. Eles também possuíam um dom que excedia tudo o que hoje conhecemos. As verdades cardeais que foram apresentadas por aqueles que nos ensinaram não deveriam ser levianamente deixadas de lado.

Agora perguntamos: "Quem foi que mudou sua doutrina eclesiástica? Quem foi que abandonou a verdade que tinha sido graciosamente recuperada para os santos por aqueles dotados irmãos que Deus levantou para esse propósito? Aqueles que procuram preservar as coisas que nos foram ensinadas por aqueles irmãos do passado tão somente buscam guardar "o bom depósito" de verdade (2 Tm 1:14) que foi recuperada para a igreja. Ela nos foi legada por uma geração anterior de homens fiéis. Temos de admitir que ela tem sido mantida em meio a muita fraqueza, mas este tem sido nosso grande objetivo. Recordamos a exortação de Paulo a Timóteo com respeito às coisas que ele havia escutado de Paulo. Era para ele transmitir a mesma verdade a homens fiéis que pudessem instruir outros. Enfatizamos que deveria ser a mesma verdade, pois Paulo estava instruindo Timóteo a ensinar a outros as mesmas coisas que ele (Timóteo) tinha aprendido de Paulo (2 Tm 2:2). Ele não devia alterá-las ao seu bel prazer para depois passá-las adiante, pois se ele e outros fizessem isso a verdade que Paulo lhe havia dado logo estaria perdida.

O cerne da questão está em que esses que se amalgamaram tiveram de abrir mão da verdade do único centro de reunião a fim de conseguirem juntar os vários grupos de irmãos em sua reunião. Ao apontarmos estas coisas não é nossa intenção acusar ou ofender, mas mostrar exatamente o que aconteceu. Na verdade parece que sempre que alguém abandona a mesa do Senhor essa pessoa passa a acreditar que a mesa não está em um único lugar.

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Traduzido de "The One Body in Practice", por Bruce Anstey publicado por Christian Truth Publishing. Traduzido por Mario Persona.


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